Perfil de Haity Moussatché: o pesquisador do talento e da resistência

Simone Kabarite

A biografia do cientista Haity Moussatché é parte marcante da história da Fiocruz e, até mesmo, do país.A trajetória do cientista foi marcada por perseguição política e grandes contribuições para a ciência. A dedicação, a resistência e a defesa da ciência o tornaram uma referência no campo da farmacologia e como cientista voltado para causas sociais e políticas. Atualmente, o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz) está localizado no pavilhão que leva seu nome, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.

Nascido na Turquia em 1910, Haity Moussatché veio para o Brasil ainda menino, com dois anos de idade. Aqui, graças a um professor do ensino médio, descobriu sua paixão pela biologia e pela história natural. Já no primeiro ano do curso da Faculdade de Medicina, começou a frequentar o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) como curioso, chegando a dormir nas dependências do Hospital Evandro Chagas. 

Em seguida, em 1937, foi contratado e depois virou chefe das Seções de Farmacodinâmica e Fisiologia. A convite de Darcy Ribeiro, fez parte da comissão que planejou a Universidade de Brasília (UnB), em 1959 e 1960. Com o golpe militar, ele e outros pesquisadores tiveram os seus direitos políticos cassados e foram aposentados compulsoriamente pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), no que ficou conhecido como Massacre de Manguinhos. 

Para dar continuidade à carreira, o cientista foi para à Venezuela, onde atuou na Universidade Centro-Ocidental Lisandro Alvarado como professor contratado, responsável pela docência em fisiologia e farmacologia. No ano seguinte, era chefe da unidade de pesquisa em ciências fisiológicas da Escola de Veterinária. Em 1975, tornou-se professor titular e, até 1985, exerceu a presidência do Consejo Asesor de Investigación y Servicios (CADIS).

Com o fim da ditadura militar, Haity retorna ao Brasil, em 1985, e no ano seguinte reassume seu lugar junto com outros cientistas banidos pela ditadura militar, já com Sérgio Arouca na presidência da Fiocruz. Durante sua trajetória,  publicou mais de 200  trabalhos, foi membro fundador da Sociedade de Biologia do Brasil (1941) e da International Society of Toxicology (1953).  Também fez parte da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Academia de Ciências de Nova York (1959), da Federação Mundial de Trabalhadores Científicos (1959), dos conselhos científicos da Revista Brasileira de Biologia e da Acta Fisiológica Latino-Americana (1955) e da Academia de Ciências da América Latina.  Foi  também um dos criadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Haity Moussatché deixou um legado nos dois países que o acolheram: formou vários pesquisadores que avançaram nas áreas de fisiologia e farmacodinâmica. Mas, o principal foi, sem dúvida, a sua paixão e a defesa do acesso à ciência como direito social.